Amor
Fraternal
Régis Duarte Müller
Normalmente quando as
pessoas falam de amor, elas expressam sua compreensão sobre o assunto
identificando-o como um sentimento. Não está errado dizer que o amor é um
sentimento, contudo não é apenas isso. O dicionário Michaelis traz os seguintes
significados para o verbete amor:
1. Grande
afeição de uma pessoa por outra;
2. Afeição,
grande amizade, ligação espiritual;
3. Carinho
simpatia;
4. O
ser amado.
Realmente amor é
tudo isso que foi apresentado no dicionário, mas é ainda mais. Amar está
diretamente ligado com atitude, com ação. O sentimento é algo que talvez você
possa sentir e que está ligado à sensação psíquica como paixões, mágoas,
desgostos, um conjunto de emoções, etc., contudo, o amor é muito mais que tudo
isso, pois além de ser um sentimento, ele é ação.
Mas, afinal, o que
é o amor?
Quando falamos em
amor precisamos buscar ajuda em outros tempos, povos e culturas. Por isso nos dirigimos
à Grécia, e da sua língua tentemos compreender os diferentes tipos de amor.
Amor Éros: O amor
éros é mais ligado à parte física, quer dizer: atração, apetite, paixão,
desejo, libido. Logo, está ligado à sedução e às relações sexuais. É o amor existente
entre homem e mulher.
Amor Filia: Esse
tipo de amor está ligado à amizade. Para Epicuro, filósofo grego nascido em
Atenas, a amizade é o máximo que a sabedoria da felicidade nos pode oferecer na
vida. Os gregos, nas palavras de Anselm Grün, foram o povo da amizade[1].
Portanto, filia é o amor da amizade.
Amor Ágape: Esse é
considerado o amor no seu estado mais puro e pleno, que pode ser reconhecido no
amor de Deus para com o seu povo. É o amor de entrega, pois: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar
nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.16).
Portanto, o amor
existente entre Deus e as pessoas é o ágape, amor que também deve estar
presente entre as pessoas, na atitude de uns para com os outros. E isso é uma
dádiva de Deus.
Desta forma, o amor que os cristãos e irmãos
na fé possuem é uma dádiva de Deus
que estimula as pessoas cristãs a amarem
umas as outras. Afinal de contas,
Deus
é, essencialmente, amor (1 Jo 4:8) e Seu propósito desde o princípio tem sido
propósito de amor. O amor do Pai para o Filho é, portanto, o arquétipo/modelo
de todo o amor. Este fato fica visível no envio e auto-sacrifício do Filho (Jo
3:16; 1 Jo 3:1, 16). Para os homens, “ver” e “conhecer” este amor é ser salvo.
O propósito primário de Deus para o mundo é Seu amor compassivo e perdoador que
se assevera a despeito da rejeição hostil dele pelo mundo. Na agape de Deus,
Sua → Glória (doxa) se revela
simultaneamente. O triunfo do amor se vê no/a doxasthenai (Glorificação) de Jesus, i.é, Sua glorificação: Sua
morte que, aqui, inclui Sua volta ao Pai (Jo 12:16, 23 e segs.). O crente,
abrangido por esta vitória, recebe zoe “vida”
(cf. 1 Jo 4:9; Jo 3:36; 11:25 e segs.)[2].
O
amor de Deus, portanto, é um amor de doação e entrega. Quando Deus se entregou à
morte de cruz, através de Jesus Cristo, ele estava amando às pessoas. Em
seguida, quando Cristo foi ressuscitado e glorificado, aquele que crê tem a
convicção de que a entrega amorosa de Deus rendeu grandes frutos, a saber: a
vida eterna.
Deste modo, não fica dúvidas de que Deus é
amor, e isso é claro nos escritos de João. Mas vai além disso, pois esse amor
de Deus se expande e alcança todos que creem em Deus. Amemo-nos mutuamente é
algo que depende de fé e da ação de Deus:
Mas,
como compreender então, as brigas entre os irmãos? Como entender os
assassinatos? As discórdias? Os sofrimentos que os homens causam?
Ora, pois, o
pensamento e a atitude amorosa partem de Deus e não do homem, até porque do
homem surgem os pensamentos odiosos e maldosos, que estão em contraposição ao
amor.
É por isso
que Deus deixa um mandamento: “Que
creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros,
segundo o mandamento que nos ordenou” (1Jo 3.23).
Com
o mandamento de Deus, as pessoas tem um norte, um ponto de referência para
poder se basear. Por si só, não podemos e nem conseguimos ajudar nosso
semelhante, de forma que Deus nos ajuda a amar o nosso semelhante.
Portanto, a iniciativa vem de Deus, de modo
que somos os instrumentos que ele usa para promover a Palavra, a instrução, o
fundamento que é Jesus Cristo ressuscitado.
Deus mostrou o seu amor por nós ao enviar seu
Filho para nos trazer perdão e vida nova, agora, espera dos seus filhos, a fé
em Jesus e o amor para com o próximo. Diante disso podemos compreender que:
A condição da
permanência de Deus em nós vale tanto para o amor fraterno como para a fé em
Cristo. Amor fraterno e fé em Cristo são neste contexto insubstituíveis.
Podemos, pois, deduzir deste fato que ambos formam um conjunto, para nós talvez
de certo modo tão estranho, que o autor pode exprimir a realidade tanto pelo
termo amor fraterno como pelo termo fé em Cristo. Para ele não existe amor
fraterno sem fé em Cristo e nem fé em Cristo sem amor fraterno[4].
Amor
e fé, duas pequenas palavras, verbetes, sentimentos e ações que diferenciam o
crente. Esse amor, portanto, não é só da boca para fora. Ele se expressa em
sacrifício e entrega.
Este
é, portanto, o amor fraternal. Amor que segue o modelo de Deus e é capaz de até
mesmo entregar a própria vida para salvar o outro.
Logo,
o mandamento de Deus é claro e objetivo: que creiamos em Jesus Cristo e amemos
uns aos outros. Aquele que faz isso “permanece em Deus, e Deus, nele”. Amém.