Comunidade Evangélica Luterana "Cristo"

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sábado, 28 de abril de 2012

4° Domingo de Páscoa


Amor Fraternal
Régis Duarte Müller
           
       Normalmente quando as pessoas falam de amor, elas expressam sua compreensão sobre o assunto identificando-o como um sentimento. Não está errado dizer que o amor é um sentimento, contudo não é apenas isso. O dicionário Michaelis traz os seguintes significados para o verbete amor:
1.  Grande afeição de uma pessoa por outra;
2.  Afeição, grande amizade, ligação espiritual;
3.  Carinho simpatia;
4.  O ser amado.
Realmente amor é tudo isso que foi apresentado no dicionário, mas é ainda mais. Amar está diretamente ligado com atitude, com ação. O sentimento é algo que talvez você possa sentir e que está ligado à sensação psíquica como paixões, mágoas, desgostos, um conjunto de emoções, etc., contudo, o amor é muito mais que tudo isso, pois além de ser um sentimento, ele é ação.
Mas, afinal, o que é o amor?
Quando falamos em amor precisamos buscar ajuda em outros tempos, povos e culturas. Por isso nos dirigimos à Grécia, e da sua língua tentemos compreender os diferentes tipos de amor.
Amor Éros: O amor éros é mais ligado à parte física, quer dizer: atração, apetite, paixão, desejo, libido. Logo, está ligado à sedução e às relações sexuais. É o amor existente entre homem e mulher.
Amor Filia: Esse tipo de amor está ligado à amizade. Para Epicuro, filósofo grego nascido em Atenas, a amizade é o máximo que a sabedoria da felicidade nos pode oferecer na vida. Os gregos, nas palavras de Anselm Grün, foram o povo da amizade[1]. Portanto, filia é o amor da amizade.
Amor Ágape: Esse é considerado o amor no seu estado mais puro e pleno, que pode ser reconhecido no amor de Deus para com o seu povo. É o amor de entrega, pois: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.16).
Portanto, o amor existente entre Deus e as pessoas é o ágape, amor que também deve estar presente entre as pessoas, na atitude de uns para com os outros. E isso é uma dádiva de Deus.
Desta forma, o amor que os cristãos e irmãos na fé possuem é uma dádiva de Deus que estimula as pessoas cristãs a amarem umas as outras. Afinal de contas,
Deus é, essencialmente, amor (1 Jo 4:8) e Seu propósito desde o princípio tem sido propósito de amor. O amor do Pai para o Filho é, portanto, o arquétipo/modelo de todo o amor. Este fato fica visível no envio e auto-sacrifício do Filho (Jo 3:16; 1 Jo 3:1, 16). Para os homens, “ver” e “conhecer” este amor é ser salvo. O propósito primário de Deus para o mundo é Seu amor compassivo e perdoador que se assevera a despeito da rejeição hostil dele pelo mundo. Na agape de Deus, Sua → Glória (doxa) se revela simultaneamente. O triunfo do amor se vê no/a doxasthenai (Glorificação) de Jesus, i.é, Sua glorificação: Sua morte que, aqui, inclui Sua volta ao Pai (Jo 12:16, 23 e segs.). O crente, abrangido por esta vitória, recebe zoe “vida” (cf. 1 Jo 4:9; Jo 3:36; 11:25 e segs.)[2].

            O amor de Deus, portanto, é um amor de doação e entrega. Quando Deus se entregou à morte de cruz, através de Jesus Cristo, ele estava amando às pessoas. Em seguida, quando Cristo foi ressuscitado e glorificado, aquele que crê tem a convicção de que a entrega amorosa de Deus rendeu grandes frutos, a saber: a vida eterna.
Deste modo, não fica dúvidas de que Deus é amor, e isso é claro nos escritos de João. Mas vai além disso, pois esse amor de Deus se expande e alcança todos que creem em Deus. Amemo-nos mutuamente é algo que depende de fé e da ação de Deus:

: Comprovação da necessidade do amor é ainda o que segue: <... porque quem ama é gerado por Deus e conhece a Deus>. O pensamento aqui não é: Amemo-nos mutuamente, para desta forma da nossa parte estabelecermos as condições necessárias para sermos prole de Deus, e sim muito mais: Amemo-nos mutuamente porque só assim corresponderemos ao que somos, sendo gerados por Deus! O pensamento parte não do homem e sim de Deus[3].

            Mas, como compreender então, as brigas entre os irmãos? Como entender os assassinatos? As discórdias? Os sofrimentos que os homens causam?
       Ora, pois, o pensamento e a atitude amorosa partem de Deus e não do homem, até porque do homem surgem os pensamentos odiosos e maldosos, que estão em contraposição ao amor.
       É por isso que Deus deixa um mandamento: “Que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou” (1Jo 3.23).
       Com o mandamento de Deus, as pessoas tem um norte, um ponto de referência para poder se basear. Por si só, não podemos e nem conseguimos ajudar nosso semelhante, de forma que Deus nos ajuda a amar o nosso semelhante.
Portanto, a iniciativa vem de Deus, de modo que somos os instrumentos que ele usa para promover a Palavra, a instrução, o fundamento que é Jesus Cristo ressuscitado.
Deus mostrou o seu amor por nós ao enviar seu Filho para nos trazer perdão e vida nova, agora, espera dos seus filhos, a fé em Jesus e o amor para com o próximo. Diante disso podemos compreender que:

A condição da permanência de Deus em nós vale tanto para o amor fraterno como para a fé em Cristo. Amor fraterno e fé em Cristo são neste contexto insubstituíveis. Podemos, pois, deduzir deste fato que ambos formam um conjunto, para nós talvez de certo modo tão estranho, que o autor pode exprimir a realidade tanto pelo termo amor fraterno como pelo termo fé em Cristo. Para ele não existe amor fraterno sem fé em Cristo e nem fé em Cristo sem amor fraterno[4].

Amor e fé, duas pequenas palavras, verbetes, sentimentos e ações que diferenciam o crente. Esse amor, portanto, não é só da boca para fora. Ele se expressa em sacrifício e entrega.
Este é, portanto, o amor fraternal. Amor que segue o modelo de Deus e é capaz de até mesmo entregar a própria vida para salvar o outro.
Logo, o mandamento de Deus é claro e objetivo: que creiamos em Jesus Cristo e amemos uns aos outros. Aquele que faz isso “permanece em Deus, e Deus, nele”. Amém.


[1] http://iarochevski.wordpress.com/2010/07/10/eros-filia-e-agape-%E2%80%93-expressoes-de-amor/
[2] Idem.
[3] THÜSING,Wilhelm. As Epístolas de São João. Petrópolis, RJ, Vozes, 1983. p. 159.
[4] THÜSING,Wilhelm. As Epístolas de São João. Petrópolis, RJ, Vozes, 1983. p. 165.

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